quarta-feira, outubro 20, 2010

O Desafiador do Acaso.

 

Era domingo, mais ou menos umas 7h da noite. Eu e meu irmão estavmos muito felizes. O Botafogo tinha ganhado de 3x0 do Flamengo, no Engenhão. Voltavamos de lá no 621. Quando passavamos na mangueira foi que tudo aconteceu. Ouvimos uns barulhos estranhos, e quando eu percebi, meu irmão estava todo sujo de sangue.

Por muito tempo eu não aceitei a morte do meu irmão. Tantas pessoas dentro do ônibus. Porque ele? O acaso tirou ele de mim. Agora eu vou tirar esse poder do acaso.

Por sorte, eu curso medicina na ufrj, além de eu ter aprendido como apagar alguém fácilmente sem deixar vestigios, tenho um campus inteiro isolado, que vive vazio depois das 10, a não ser pelos bebados voltando do mangue, o que me dá a possibilidade de fazer o que eu quiser lá dentro.

Entrei no ônibus, sentei bem no meio, observando tudo. Reparei bastante na pessoa que estava sentada na segunda fileira de bancos do lado do cobrador, perto da janela. foi naquele banco, naquele maldito banco que eu perdi o meu irmão.
Era uma mulher, loira, até bonita, mas um pouco desgastada, parecia feliz, do tipo que acabou de dar o primeiro beijo. Perfeito pra mim. Triste pra ela.
Gabriela. Decidi chama-la assim, já que não sabia seu verdadeiro nome. Ela desceu na passarela. Vazia, como eu imaginei. Nem perdi meu tempo, injetei a substancia nela, que apagou sem ao menos ver meu rosto. foi fácil carrega-la até o porta malas do carro, que estava estacionado bem perto. Coloquei ela lá dentro e fui direto para o meu palco.

Depois de terminar minha obra de arte, deixei-a na rua visconde de niterói, onde meu irmão morreu. Fui pra casa. Tive a melhor noite de sono da minha vida.

Acordei, liguei a tv, e vi. É tão bem ver o caos alheio. Ver que alguém vai sentir a mesma dor que eu senti. Eu já estava pronto pra outra. Mas não queria agir tão cedo para não levantar nenhum tipo de suspeitas. eu não sou do tipo que quer ser pego.

Uma semana depois, resolvi agir. dessa vez tinha um rapaz jovem, de barba, loiro, mas nem um pouco feliz, pelo contrário. Esse estava com uma cara miserável, provavelmente um desses losers sem nenhum amigo. não vai fazer falta pro mundo. Desceu também na passarela. Aprendi que os jovens estudantes do Fundão costumam pegar muitas conduções por lá. Dessa vez, o deixei na frente do engenhão, uma forma de tributo ao meu irmão e a sua maior paixão, o futebol.

Decidi que a minha próxima vez seria a última, não estava disposto a arriscar a minha vida. Meu irmão me fazia falta, mas a minha sensação era de dever quase cumprido, só mais uma deveria bastar pra me fazer dormir como um bebê pelo resto de minha vida.
Engraçado que as pessoas pensam que matar alguém deve ser pertubador, ou que deve tirar o sono. Comigo, parece que eu tomei um lexotan, me sinto muito relaxado.

Irônias a parte, Dessa vez era um velhinho que estava no banco. Agora você pergunta, o que diabos um velhinho está fazendo num ônibus interno da UFRJ essa hora da noite? Ele está praticamente pedindo pra morrer. Ou será que ele não sabe que vivemos numa cidade violenta?

Foi fácil como nunca. muitas pessoas me repreenderiam mais ainda por ter sido um velhinho. E logo eu, que sempre adorei velhinhos. Mas quem escolheu foi o acaso, ninguém mandou ele estar onde estava. é a mais pura prova de que o destino existe.

O deixei em frente a nossa casa. Meus pais iam ficar horrorizados de manhã. Coitados, se eles soubessem...
O que eu me impressiona, é que a policia até hoje não ligou os casos. mesmo todos eles tendo uma bala implantada na lado esquerdo do cerebro. Implantada. Não acredito que outros Serial Killers prefiram abrir uma cabeça e colocar uma bala dentro de um cérebro, do que simplesmente atirar. Mas esse sou eu. Não gosto de simplicidade.